sábado, 10 de julho de 2010

RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE

Ed Rene Kivitz, pastor e conferencista

QUANDO DISCUTIMOS RELIGIÃO AFASTAMOS AS PESSOAS E PREGAMOS A INTOLERÂNCIA
Para quem não sabe, semanas atrás os jogadores do Santos foram convidados a ir a uma entidade de ação social em que são tratadas crianças portadoras de deficiências mentais. Já na porta da entidade, alguns jogadores, entre eles, Robinho, Neymar, Ganso e Fabio Costa ficaram sabendo que a organização está ligada a entidades espíritas e, imediatamente, se recusaram a entrar, sob a alegação de que sua religião os proíbe de contatos com o espiritismo. Recusaram-se, assim, a manter contato com as crianças doentes. Outros jogadores entraram e cumpriram a tarefa para a qual haviam se deslocado até ali.
Criticado, como os demais do grupo resistente, Robinho exigiu:
"- É preciso que respeitem a religião da gente".
Ed René Kivitz, Pastor evangélico e santista desde pequenino, faz as seguintes ponderações:

Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais Bíblia e de cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo,ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião.
Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião.
Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância.
A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai.
E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz.
Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, fazem com que os discordantes no mundo das crenças se dêem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar - você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

Ed René Kivitz, Pastor evangélico

"Temos bastante religião para fazer-nos odiar uns aos outros, mas não o bastante para que nos amemos uns aos outros" (Jonathan Swift)

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