EX-REITOR DA UERN ANALISA AUDIÊNCIA PÚBLICA QUE MARCOU OS 75 ANOS DA INSURREIÇÃO COMUNISTA
O meu amigo e ilustre professor Antonio Capistrano, ex-deputado estadual, ex-vice-prefeito de Mossoró-RN e nome que ficou na história da Universidade Regional (hoje Estadual) do Rio Grande do Norte, escreveu um artigo sobre a audiência pública ocorrida na Câmara Municipal de Natal, que marcou o aniversário da Insurreição Comunista de 1935., por proposição do vereador George Câmara (PCdoB). Capistrano lamenta o fato de não ter comparecido a referida audiência, afirmando ter perdido uma verdadeira aula de história. No artigo o grande Capistrano nos dá, de forma minuciosa, uma aula de história política e destaca pontos importantes do fato histórico da vida nacional.
Leiam:
A Câmara Municipal de Natal, através do mandato popular do vereador George Câmara, realizou no dia 30 de novembro próximo passado uma audiência pública sobre os 75 anos da Insurreição Comunista de 1935. Foi um momento singular, emocionante, uma audiência histórica para fica registrada nos anais do poder legislativo municipal.
Como eu ando ruim das pernas não pude comparecer a esse tão importante evento, uma verdadeira aula de história, da verdadeira história do nosso povo. História que geralmente os livros didáticos não contam. A Insurreição Armada de 1935 tem sido um fato histórico distorcido pelas forças reacionárias e, precisa ser recontada. Outro problema que venho enfrentando é emocional, qualquer fato que me toca, me emociona, isto tem me impedido de participar, principalmente dos eventos que tratam das lutas populares, especialmente quando fala dos camaradas que morreram lutando por um mundo de paz, de justiça, um mundo democrático e socialista. Lamentei profundamente não estar presente e expor a minha opinião sobre esse marcante acontecimento das lutas populares do nosso país. Assistir, ao vivo, pela tevê Câmara, do começo ao fim, vibre com os relatos dos camaradas.
A Insurreição Comunista de 1935 é um marco na história do povo brasileiro, mas, como tudo que é popular, ela foi distorcida pela história oficial. História que dominou a historiografia brasileira durante muitos e muitos anos. Hoje, a verdade histórica começou a ser resgatada, estar sendo recontada. A história das lutas populares passou a ser olhada de outra forma. Fatos como Canudos, a Revolta da Chibata e a Insurreição de 1935 ganhou uma nova versão. 1935 não foi uma intentona como a versão oficial cantou em prosa e verso durante muito tempo, mas sim uma Insurreição Armada, um levante militar, com seus equívocos e erros, mas não foi uma intentona. Fiquei muito feliz quando vi e ouvi a preleção de cada participante da mesa – o vereador George Câmara, presidindo a audiência, mostrando como faz a diferença um comunista no poder legislativo, imagine uma bancada.
O professor Homero Costa deu uma aula, ele que tem contribuído na busca da verdade dos fatos, realizando um bom trabalho no resgate da memória das lutas populares aqui no estado. Ele é respeitado no mundo acadêmico e pelas diversas tendências da esquerda norte-riograndense, isto como resultado da seriedade das suas pesquisas e pelos livros publicados, possibilitando o acesso a informações corretas.
Outro que falou foi Roberto Monte, esse é um gigante na luta em defesa dos direitos humanos e da verdade histórica. Quem conhece o trabalho que Roberto realiza e o acervo de informações que ele juntou, sabe da importância da sua contribuição no resgate da história do movimento de 1935 e da memória das lutas populares no Rio Grande do Norte, além de sua defesa, permanente, dos direitos humanos. A fala de Roberto, como sempre, foi de esclarecimento e compromisso com a verdade dos fatos.
A neta de Chico Guilherme trouxe o depoimento sobre a participação do seu avô, um velho militante comunista, um velho amigo, que dedicou grande parte da sua vida na luta em defesa da classe operária na região salineira do Rio Grande do Norte, Chico Guilherme teve uma participação decisiva no movimento de 1935. Após o fracasso da Insurreição Armada, ele foi preso, Seu Chico é personagem de Graciliano Ramos no livro Memórias do Cárcere. A história de Chico Guilherme e do Sindicado do Garrancho foi resgatada pela pesquisadora Brasília Ferreira em um importante trabalho, que precisa ser reeditado. O Sindicato do Garrancho é uma história esquecida pela historiografia oficial e que merece vim ao conhecimento das novas gerações.
Por último ouvimos a palavra abalizada do bravo camarada Mery Medeiros, trazendo seu testemunho como companheiro de muitos que participaram do movimento armado de 1935. Mery personifica a história das lutas dos trabalhadores do campo e da cidade nos últimos 50 anos. Ele é uma personalidade impar do movimento comunista potiguar. Homem preocupado com a nossa história, presença marcante na preservação da memória das lutas populares, sempre levando o seu testemunho sobre os fatos que fazem parte da nossa história. Mery orgulha a todos nós comunistas, ele é uma daquelas figuras que Bertolt Brecht qualifica como imprescindíveis.
Finalizo esse modesto registro afirmando: a audiência publica do último dia 30 de novembro de 2010 (terça-feira) na Câmara Municipal de Natal foi um grande momento do legislativo potiguar. Parabéns ao vereador George Câmara e a sua equipe, é esse tipo de trabalho que distingue a presença de um comunista no legislativo.
Antonio Capistrano – foi reitor da Uern e é filiado ao PCdoB
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